terça-feira, 6 de abril de 2010

Matemática da Imperfeição

      Com certeza você já ouviu falar, e já falou também, que ninguém é perfeito. Então, por que cobramos de nós mesmos sermos perfeitos? A verdade é que é impossível ser perfeito e eu vou usar equações básicas para te mostrar isso.
      Você poderia se perguntar: mas, o que é ser perfeito? O jeito de ser perfeito pra um pode não ser o mesmo para o outro.
      Bom, a gente poderia até enveredar para este discurso, mas podemos concordar que a perfeição tem alguns itens básicos. Então, vamos falar no “perfeito básico”.
      O “perfeito básico” dorme 8 horas por noite; responde e-mails diariamente; lê jornais (eletrônico ou impresso) diariamente; toma, pelo menos, um banho caprichado por dia; usa cremes; malha, no mínimo, 3 vezes por semana; não chega atrasado a nenhum compromisso; não come com pressa; mastiga 20 vezes antes de engolir; bebe 2 litros de água por dia; faz compras de supermercado regularmente, para que não falte nada em casa; está sempre apresentável; vai a todas as reuniões de pais da escola dos seus filhos; acompanha atentamente o desempenho escolar dos seus filhos prodígios (porque filho de perfeito, perfeitinho é); realiza seu trabalho com empenho e dedicação; separa momentos para o lazer; acompanha os lançamentos do cinema e lê, pelo menos, 1 livro por mês.
      Você já parou pra fazer as contas? Ninguém pode ser assim com dias que duram apenas 24 horas! Sabe outra coisa que nos deixam desesperados? Aqueles livros, que quase pulam no colo da gente quando a gente entra em uma livraria: “1000 lugares que você precisa conhecer”; “500 filmes imperdíveis”; “Os 100 melhores livros da literatura brasileira”; “100 livros essenciais”.
      Eu comprei a edição 100 de uma revista, em 2006, que anunciava o “Ranking do melhor da cultura em oito anos” (da revista): 100 Espetáculos de teatro e dança; 100 concertos e shows; 100 exposições; 100 livros; e 100 filmes.
       Hoje eu me pergunto: quantas vidas seriam necessárias para ir a todos os lugares que eu preciso conhecer, assistir a todos os filmes imperdíveis, ler todos os livros essenciais e conhecer o melhor da cultura?
       Meu querido e minha querida, se você não é o Papa, nem o Secretário Geral da ONU, se você não é correspondente da BBC e não trabalha na Nathional Geographic, esqueça! Você não vai conhecer nem a metade dos lugares que você acha que precisa conhecer. Ou pelo menos suas chances são infinitamente pequenas. O sistema ONU tem atualmente 192 países, se você pretende conhecer a metade deles (que é uma conta bem modesta para “perfeitos” exploradores), você terá 96 viagens para fazer durante a vida. Se você já passou dos 20 e pretende viajar até os 80 (uma conta bastante otimista), fazendo uma viagem por ano ao exterior, sem repetir lugares, você terá apenas 60 destinos para conhecer. Longe do que alguém “perfeitamente viajado” requer.
      E quando o assunto é leitura? Considerando a média (modesta) de leitura de 20 páginas por hora, um livro de 300 páginas requer 15 horas de dedicação. Se os 100 livros essenciais tiverem uma média de 200 páginas você precisará de 1000 horas de dedicação para eles, o que corresponde a mais de 41 dias inteiros dedicados exclusivamente à leitura, sem dormir 8 horas, sem beber 2 litros de água, sem malhar 3 vezes por semana, ...
       Portanto, meus amigos, ser perfeito é o X da questão. E já que a matemática não ajuda, por que não tentamos fazer o razoável ao invés do impossível.

      Não seja perfeito, seja apenas você.


Do Balaio da Tati