terça-feira, 27 de abril de 2010

“É namoro ou amizade?”



     Há quem duvide; mas acredito que possa existir amizade sincera entre um homem e uma mulher e, que esta amizade entre sexos, tem muito mais a ver com as características individuais, ideologias, histórias e cumplicidade partilhadas do que com o gênero propriamente dito.

     Homens e mulheres têm muito a oferecer e, dividindo experiências, pode levar o outro a solucionar problemas mais facilmente. Homens se dizem mais práticos e mulheres mais complexas, então se uma mulher pedir conselho a um homem, certamente terá uma visão mais clara, chegando mais diretamente ao ponto “x”da questão ao invés de ficar interpretando aquilo que não se vê. A mulher por sua vez é boa ouvinte, demonstra compreensão, interesse e disponibilidade para fazê-lo entender sob o ângulo feminino.

     Considerando ainda que no mundo modernizado o homem esteja mais amigo de sua porção feminina e as mulheres ocupando cargos e responsabilidades outrora somente ocupados pelos machos, quase extintos, ter uma relação amigável com o sexo oposto se torna quase uma estratégia.

     Essa sinergia entre os dois sexos se forma devido a pontos em comum, gestos, comportamentos, pensamentos e talvez quem tenha tamanha dificuldade ou tenha como impossível o relacionamento com o sexo oposto, apenas afetivo e não relacionado à sensualidade, pode ter guardado, a sete chaves, uma dificuldade em relação ao sexo oposto em si mesmo e então acabam caindo na generalização preconceituosa e se privando de uma relação leve, leal e sem interesses.

     Amizade é uma relação extremamente necessária, mas não podemos deixar de analisar e agir com cautela na dimensão que cada uma delas terá e ocupará. Traçar uma plataforma dessa relação entre sexos será importante, pois sabemos bem, não esqueçamos nem nos enganemos que homem é homem e mulher é mulher e pode ser que haja uma tensão sexual imposta pelos hormônios. Saber que há limite com aquela pessoa é algo que acontece não somente se tratando de sexos opostos, afinal, dependendo do assunto, programa, dia, hora e circunstância em geral você vai escolher para quem vai dar aquele telefonema: homem ou mulher, Fulana, Beltrana, Cicrana...

     Mulheres e homens maduros vêem no sexo oposto uma possível amizade, uma possível troca de experiências saudáveis. Mulheres imaturas vêem o homem somente como o grande oportunista e o homem puro oportunismo não se relaciona com mulheres inteiras. Homens imaturos vêem mulheres como um corpo e mulheres que são apenas um corpo não se relacionam com homens inteiros.
Do Balaio da Thais
                                                                                                 

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Perfil

- Tati, você tem que fazer o seu perfil - foi o que me disse a Martinha, que me colocou nesse “balaiodletras”.

- Como assim, meu perfil? O que você quer saber, meu bem? - Foi o que respondi.

De repente, sem esperar, deparei-me com aquele momento crucial na vida de qualquer pessoa: dizer “quem sou eu”.

Eu não estava preparada para pensar em grandes temas, como: “devemos ou não ter a bomba atômica?”; “sou a favor ou contra as cotas raciais nas universidades?”; “como reduzir os gazes poluentes que aumentam o aquecimento global?”; ou “quem sou eu?”.

Grandes temas estavam fora de questão esta noite. Eu estava pensando aonde esconderia os ovos de páscoa dos meus filhos, antes de receber o fatídico e-mail da Martinha. “Quem sou eu?”

Sou blogueira principiante, mas acho que o campo “perfil” deveria exigir uma atualização diária, sob pena de não dizer a verdade.

Lendo uma resenha do livro “A estética do oprimido” (de Augusto Boal), descobri que os índios Pirahá, de Roraima, ao longo da vida mudam de nome, porque acreditam que o avançar da idade os transformam em outras pessoas e se guardassem os mesmos nomes mentiriam sobre sua identidade.

A propaganda de um shopping de Belo Horizonte (para lançamento de uma de suas coleções, de inverno ou verão, não me lembro) talvez explique melhor o que quero dizer. Apelando para a compra de todas as peças da coleção, a campanha perguntava: “Que mulher você acordou hoje?”.

Olha, você pode não saber, mas pergunte ao seu marido, que ele te responde.
...
Acabei de voltar do quarto. Perguntei ao meu marido:

- Amor, quem eu sou? Qual é meu perfil?

Ele respondeu:

- Você? É esperta, inteligente, gostosa,...

Eu interrompi e o adverti:

- Amor é pra colocar na internet!

Então, ele corrigiu:

- Estudiosa, trabalhadora,...

Enfim, esta sou eu. Aquela que não tem uma definição. Muda todo dia. Tenta ser melhor. Mas,... de vez em quando quer simplesmente não (ter que) ser nada!

E quanto a você, qual é o seu perfil?

Do Balaio da Tati

terça-feira, 13 de abril de 2010

Investir em ser compreendido


 

       A gente gosta, às vezes, de fazer um drama para nós mesmos. Pensamos que em alguns momentos a vida maltrata a gente (além da conta...), e que seria bom ter uma trégua. É quase um cochicho. E que ninguém nos ouça, não é?

       Mas, sabem de uma coisa? A gente tem que falar mais! De verdade! Verbalizar esses pensamentos interiores que temos vergonha de compartilhar. Às vezes pensamos até algo do tipo - "Ah, fala sério! Quem quer ouvir essa bobagem?" Mas você só vai saber se deixar o "tagarela" que existe dentro de você aflorar.

       Eu particularmente tenho uma mania de não dizer algumas coisas importantes para as pessoas próximas a mim, com a desculpa de poupá-las. Podem rir! Até eu dou umas risadas disso, às vezes. Que papo é esse de poupar alguém? O que rola mesmo é MEDO! Medo do impacto, das reações, do descaso, da chacota... Quem sabe?

       Péssimo isso! Porque perco, como muitas pessoas, a oportunidade de dizer algumas coisas.

       Não tem o mesmo efeito receber um “parabéns” no dia seguinte ao do aniversário, tem? Você não se pergunta por que a pessoa não ligou na data se sabia qual era? Claro que imprevistos acontecem, mas com um esforço mínimo teria feito no momento certo. E com um esforço mínimo também evitamos de sermos incompreendidos!

       Quando, por exemplo, perdemos alguém (para a morte, para outro alguém, para o tempo... Não importa!) nos damos conta de como gostaríamos de não ter "papas na língua". De não ter deixado uma impressão naquele momento que não fosse a real. Ou então quando desligamos o telefone sem ter a certeza que a pessoa do outro lado entendeu o que estava no nosso coração...  
Acertar as palavras não é tarefa fácil, mas temos um idioma riquíssimo para nos ajudar. O tempo precisa parar até sermos compreendidos.

       Você pode se perguntar: pirou? Não, nem um pouco. Vamos gastar menos tempo investindo  em sermos compreendidos agora do que nos conformando com as palavras não ditas e que não voltam mais. Sei bem que ouvir mais e falar menos são qualidades apreciadas por aí, mas, pensem bem: vale à pena ter estas benesses e ficar com a sensação que não disse tudo?

       Hoje penso que não. Acho que expressar os nossos pensamentos, idéias e sentimentos, merece um cuidado todo especial.
 
       - Mas, Martinha, e se eu disser o que penso e não for bem aceito?

       Tente novamente! 

       Agora se as pessoas ao seu redor não respeitam as suas idéias, (porque todos têm o direito de concordar ou não, mas respeitar é fundamental!) avalie se não anda mal acompanhado.


Do Balaio da Martinha

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Amália e João

      Amália completa hoje trinta anos. É uma mulher bonita e inteligente, mas nunca mostrou a ninguém quem de fato é. Pensa que não há nada de mais em fazer sempre o que as pessoas ao seu redor gostam, fazem, falam.

     Amália deixou de lado sua personalidade ainda jovem. Talvez com medo de não ser aceita, copiava gestos, gostos, vícios e atitudes de cada uma das pessoas que ia encontrando pelo caminho.

     Ganhamos dos nossos pais convicções culturais, sociais, religiosas e até mesmo políticas que servem de orientação às nossas escolhas. Durante um tempo o molde funciona, mas pode ser que chegue o momento em que será necessário desvincular-se e apostar em escolhas próprias.

     João tem uns quatro furos na orelha esquerda, corpo quase todo tatuado e usa calças jeans uns dois números acima do que de fato deveria. Seu corte de cabelo é assimétrico e, no polegar esquerdo, usa um anel prata redondo. Quem o vê, de cara, se impressiona com sua aparência.

     Passada a primeira (má) impressão de João, não será difícil reconhecer a pessoa sensível, amiga e inteligente que ele é. Pois no meio em que João vive, junto às pessoas com quem se relaciona ele não é um estranho; é apenas mais um. Eu com meu corpo nada colorido sou a própria estranha.

     Esconder suas motivações, preferências, habilidades e até mesmo emoções pode fazer de você um estranho a você mesmo. O que vai vestir, comer, assistir na Tv ou até mesmo de que forma vai agir com aquela pessoa que te magoou, são escolhas que você terá que fazer. Somente você pode dizer quais são suas fraquezas, dificuldades ou até mesmo onde sua habilidade é incomparável e isso lhe torna único e original.

     Amália não tem vez para ela mesma, nem sabe o que vai dentro dela. João por sua vez levantou a bandeira a favor de suas idéias.

     E você? É Amália ou João?


Do Balaio da Thais

terça-feira, 6 de abril de 2010

Matemática da Imperfeição

      Com certeza você já ouviu falar, e já falou também, que ninguém é perfeito. Então, por que cobramos de nós mesmos sermos perfeitos? A verdade é que é impossível ser perfeito e eu vou usar equações básicas para te mostrar isso.
      Você poderia se perguntar: mas, o que é ser perfeito? O jeito de ser perfeito pra um pode não ser o mesmo para o outro.
      Bom, a gente poderia até enveredar para este discurso, mas podemos concordar que a perfeição tem alguns itens básicos. Então, vamos falar no “perfeito básico”.
      O “perfeito básico” dorme 8 horas por noite; responde e-mails diariamente; lê jornais (eletrônico ou impresso) diariamente; toma, pelo menos, um banho caprichado por dia; usa cremes; malha, no mínimo, 3 vezes por semana; não chega atrasado a nenhum compromisso; não come com pressa; mastiga 20 vezes antes de engolir; bebe 2 litros de água por dia; faz compras de supermercado regularmente, para que não falte nada em casa; está sempre apresentável; vai a todas as reuniões de pais da escola dos seus filhos; acompanha atentamente o desempenho escolar dos seus filhos prodígios (porque filho de perfeito, perfeitinho é); realiza seu trabalho com empenho e dedicação; separa momentos para o lazer; acompanha os lançamentos do cinema e lê, pelo menos, 1 livro por mês.
      Você já parou pra fazer as contas? Ninguém pode ser assim com dias que duram apenas 24 horas! Sabe outra coisa que nos deixam desesperados? Aqueles livros, que quase pulam no colo da gente quando a gente entra em uma livraria: “1000 lugares que você precisa conhecer”; “500 filmes imperdíveis”; “Os 100 melhores livros da literatura brasileira”; “100 livros essenciais”.
      Eu comprei a edição 100 de uma revista, em 2006, que anunciava o “Ranking do melhor da cultura em oito anos” (da revista): 100 Espetáculos de teatro e dança; 100 concertos e shows; 100 exposições; 100 livros; e 100 filmes.
       Hoje eu me pergunto: quantas vidas seriam necessárias para ir a todos os lugares que eu preciso conhecer, assistir a todos os filmes imperdíveis, ler todos os livros essenciais e conhecer o melhor da cultura?
       Meu querido e minha querida, se você não é o Papa, nem o Secretário Geral da ONU, se você não é correspondente da BBC e não trabalha na Nathional Geographic, esqueça! Você não vai conhecer nem a metade dos lugares que você acha que precisa conhecer. Ou pelo menos suas chances são infinitamente pequenas. O sistema ONU tem atualmente 192 países, se você pretende conhecer a metade deles (que é uma conta bem modesta para “perfeitos” exploradores), você terá 96 viagens para fazer durante a vida. Se você já passou dos 20 e pretende viajar até os 80 (uma conta bastante otimista), fazendo uma viagem por ano ao exterior, sem repetir lugares, você terá apenas 60 destinos para conhecer. Longe do que alguém “perfeitamente viajado” requer.
      E quando o assunto é leitura? Considerando a média (modesta) de leitura de 20 páginas por hora, um livro de 300 páginas requer 15 horas de dedicação. Se os 100 livros essenciais tiverem uma média de 200 páginas você precisará de 1000 horas de dedicação para eles, o que corresponde a mais de 41 dias inteiros dedicados exclusivamente à leitura, sem dormir 8 horas, sem beber 2 litros de água, sem malhar 3 vezes por semana, ...
       Portanto, meus amigos, ser perfeito é o X da questão. E já que a matemática não ajuda, por que não tentamos fazer o razoável ao invés do impossível.

      Não seja perfeito, seja apenas você.


Do Balaio da Tati

quinta-feira, 1 de abril de 2010

"Que vontade de sumir..."

Todo mundo algum dia na vida teve essa frase na cabeça, as vezes até como um letreiro luminoso, daqueles que chamam bastante atenção. Nem é preciso pronunciar, esse desejo toma de conta sem a gente perceber. Em segundos pensamos que seriamos felizes se pudessemos olhar para o globo, dar uma girada e escolher aleatoriamente um lugar e simplesmente partir para começar uma vida, uma história, tudo novinho. Mas, (porque queridos história real tem sempre estas três letrinhas M A S para nos dar um choque...) a vida não é assim. Independente de onde estivermos, seja no Alaska, Caribe ou Austrália, o que nos tira o sono e nos inquieta a alma vai com a gente, faz parte de nós, tem o nosso gosto, cheiro e aparência. É a nossa essência. O que hoje nos faz ter vontade de sumir num passado nem tão distante nos dava paz, iluminava o dia, nos fazia sorrir, nos completava. Montanha russa de desejos, emoções, expectativas. Um olhar deturpado do presente? Não, talvez uma visão ingênua do futuro. Porque é lá no amanhã que depositamos a nossa esperança de uma vida serena, constante e madura. Onde finalmente conseguiremos nos entender com a gente mesmo, com os outros e com o mundo.


Não dá pra esperar este dia insólito chegar. Na verdade é uma incógnita se ele realmente existe. E agora? É preciso tolerância com o que mexe com a gente lá no fundo da alma. Não se julgue, mas avalie , pondere, ajuste. Sem intenção de mudar o planeta, sem qualquer intenção de seguir as regras existentes, ser politicamente correto. Pense no SEU mundo! Aquele universo que pulsa dentro de você. Domine o presente, sem pensar nos minutos, horas, dias, meses e anos a frente.

Queira poder ter vontade de sumir num minuto e no seguinte se sentir tão à vontade onde está...

Viver o hoje é um presente... felizes exatamente como somos, uma dádiva ainda maior.


Do balaio da Martinha