sexta-feira, 9 de abril de 2010

Amália e João

      Amália completa hoje trinta anos. É uma mulher bonita e inteligente, mas nunca mostrou a ninguém quem de fato é. Pensa que não há nada de mais em fazer sempre o que as pessoas ao seu redor gostam, fazem, falam.

     Amália deixou de lado sua personalidade ainda jovem. Talvez com medo de não ser aceita, copiava gestos, gostos, vícios e atitudes de cada uma das pessoas que ia encontrando pelo caminho.

     Ganhamos dos nossos pais convicções culturais, sociais, religiosas e até mesmo políticas que servem de orientação às nossas escolhas. Durante um tempo o molde funciona, mas pode ser que chegue o momento em que será necessário desvincular-se e apostar em escolhas próprias.

     João tem uns quatro furos na orelha esquerda, corpo quase todo tatuado e usa calças jeans uns dois números acima do que de fato deveria. Seu corte de cabelo é assimétrico e, no polegar esquerdo, usa um anel prata redondo. Quem o vê, de cara, se impressiona com sua aparência.

     Passada a primeira (má) impressão de João, não será difícil reconhecer a pessoa sensível, amiga e inteligente que ele é. Pois no meio em que João vive, junto às pessoas com quem se relaciona ele não é um estranho; é apenas mais um. Eu com meu corpo nada colorido sou a própria estranha.

     Esconder suas motivações, preferências, habilidades e até mesmo emoções pode fazer de você um estranho a você mesmo. O que vai vestir, comer, assistir na Tv ou até mesmo de que forma vai agir com aquela pessoa que te magoou, são escolhas que você terá que fazer. Somente você pode dizer quais são suas fraquezas, dificuldades ou até mesmo onde sua habilidade é incomparável e isso lhe torna único e original.

     Amália não tem vez para ela mesma, nem sabe o que vai dentro dela. João por sua vez levantou a bandeira a favor de suas idéias.

     E você? É Amália ou João?


Do Balaio da Thais